Fio Invisível - Terceiro movimento
I Disse-lhe ele, depois de muitos dias calados, e talvez nem dissesse com voz, mas com aquele olhar de quem já perdeu estrada e mesmo assim segue, minha senhora, não sei o nome que a senhora carrega, e pouco importa, pois nome é vento e o que permanece é o peso do silêncio entre as mãos, nunca lhe contei de onde vim porque a senhora tampouco perguntou, e se tivesse perguntado talvez eu dissesse qualquer coisa bonita, para parecer digno de seus modos, mas agora, que o tempo afrouxou minha vaidade, lhe digo com clareza: de onde venho já passou, a poeira se assentou, e o que fica é esse hoje que se faz caminho. Venha, traga o que é seu, não digo bens pois bens são lastros e o que temos é vento, traga sua lembrança, sua sede, sua paz inquieta, e venha morar comigo, não no sentido de paredes e telhado, mas num canto da serra onde a alma pode se despir sem vergonha, onde o Sol entra pelas frestas e os dias se desenham no chão de terra batida, e lá há um espaço pequeno, sim, porque o es...