Aljube da alma - vaidade. Tudo é vaidade
Ao chegar ao estacionamento do mercado, com a mente a recitar, quase em transe, a lista de compras que me parecia tão cheia de promessas efémeras, deparo-me com uma vaga, aquela que, em minha convicção, seria destinada ao meu modesto veículo. Num impulso que mais parecia o sussurro apressado do destino, dirigi o carro para assinalar a entrada e, num instante em que o tempo se diluía, um outro veículo, regido por uma ânsia exaltada, despontou à frente e apropriou-se do espaço que me parecia ter sido reservado ao meu ser. Foi então, num repentino tumulto de sentimentos – uma mescla indizível de ira, de ódio e de indignação – que me vi imerso na ilusão de um direito perdido, lutando (ainda que sem saber que a verdadeira batalha é interna) pelo que me parecia ser a primazia de ter chegado primeiro, usando os modestos recursos do automóvel como prolongamento de uma vontade de existir nos meus próprios termos, por aqueles metros quadrados que, de forma insólita, se transformavam no palc...