Lisboa às escuras
N aquela manhã de vinte e oito de abril de dois mil e vinte e cinco, tudo parecia seguir o curso habitual dos dias, a não ser, claro, pelo detalhe da greve dos comboios, anunciada sem grande surpresa mas com consequências inesperadas, o trânsito em Oeiras transformado em um labirinto de carros, motores impacientes, buzinas que falavam numa linguagem própria, o autocarro que tomo diariamente inchado de gente, corpos comprimidos como se uma força maior os quisesse fundir num só, todos aqueles que não conseguiram apanhar o comboio viram-se empurrados para os autocarros, os condutores, resignados, fechando portas, recusando novas paragens, lotação esgotada, aquele espaço tornara-se um universo fechado, uma cápsula de movimento errático. Noventa minutos, noventa minutos a respirar o ar saturado, a observar as caras dos que, tal como eu, se deixavam levar pelo fluxo imposto, e a minha mente, sempre inquieta, vendo naquela massa de trabalhadores algo de mais profundo, um reflexo de um tempo e...